Este blog, tem como objectivo contribuir: informar,
sensibilizar e motivar ao abandono do tabaco. Esta é uma iniciativa que vem da
experiência que é possível Deixar de Fumar e que o Tabaco Mata.
Um Pouco de História
O uso de plantas para mascar ou fumar não é novo. Esses
hábitos existiam séculos antes de Cristóvão Colombo ter chegado ao Novo Mundo.
Colombo viu que os indígenas mastigavam folhas secas de uma planta que ele
desconhecia, que era o tabaco. E foi ele, Colombo, que trouxe para a Europa
esse costume. Outros povos, como os maias, por exemplo, tinham hábitos
semelhantes, usando uma mistura enrolada em folhas de milho.
Razões diversas podem ter conduzido certos povos ao uso do
tabaco. Entre elas, salientamos as razões místicas – os sacerdotes afirmavam
que as folhas do tabaco permitiam ligar o Céu à Terra; as ornamentais – o
tabaco era cultivado como planta ornamental nas cortes de Portugal e Espanha;
as sanitárias – pensava-se, nesse tempo, que o tabaco acalmava as dores de
cabeça, e Jean Nicot de Villemaire aconselhava Catarina de Médicis, rainha de
França, a usar uma cocção de folhas de tabaco para tratar as suas frequentes
enxaquecas. Linneu, o célebre naturalista sueco, inspirou-se no nome de Nicot,
para dar o nome latino ao tabaco (Nicotina tabacum); as hedonistas – as
sensações proporcionadas pelo tabaco podem ser agradáveis e induzem a uma
utilização mais frequente. Há ainda razões de ordem psicológica e física, que
analisaremos mais adiante.
De então para cá, o uso do tabaco percorreu um longo
caminho, deixando de ser um ‘luxo’ dos senhores ricos e dos dignitários, para
se tornar um dos hábitos mais vulgarizados (e destruidores) do planeta.
Origem de um Hábito
Apesar de todos os avisos e conselhos, hoje começa-se a
fumar cada vez mais cedo. É frequente vermos crianças de 6, 7, 8 anos a fumar.
Durante a sua vida escolar, a criança segue uma de duas vias: ou se torna um
fumador, ou se torna um oponente desse hábito. As razões que levam uma criança
a querer experimentar o tabaco são de variada ordem, mas estão quase todas
relacionadas com o exemplo que vêem nos pais e com o uso que dele fazem os seus
amigos e companheiros. Por vezes, começa-se a fumar só para se ser aceite no
grupo.
Por outro lado, o uso do tabaco é, muitas vezes, encarado
como uma forma de combater o stresse, de ajudar na concentração, um modo de
parecer mais adulto ou mais seguro de si, ou até, como um meio de vencer
emoções fortes. Psicologicamente, o cigarro pode ser visto por quem o utiliza
como um símbolo de liberdade (“fumo porque sou livre”, especialmente entre
mulheres); de autonomia (“decidi fumar, é um prazer que dou a mim mesmo de vez
em quando...”).
A verdade é que o uso se vai tornando cada vez mais
frequente e começa a ser quase indispensável para essas pessoas, em certas
circunstâncias. Fumar deixa, então, de ser casual e esporádico para se tornar
um hábito.
Com a continuação, e devido à acção das substâncias químicas
presentes no tabaco (ver quadro abaixo), cria-se uma dependência psicológica e
emocional que leva ao vício. O tabaco passa a ser uma “bengala” que se procura
como primeiro apoio e sem a qual nada se consegue fazer. E essa dependência,
esse vício, pode ser tão forte que, mesmo que não haja dinheiro para comer, a
aquisição de tabaco passa à frente de outras necessidades pessoais e
familiares.
ALGUMAS SUBSTÂNCIAS PRESENTES NO CIGARRO
• Acetona (solvente)
• Ácido cianídrico (câmaras de gás)
• Amoníaco (detergente)
• Arsénico (veneno poderoso)
• Benzopireno (cancerígeno)
• Butano (gás tóxico)
• Cádmio (usado em baterias)
• Chumbo (metal pesado, tóxico)
• Cloreto de vinilo (PVC, altamente tóxico)
• DDT (insecticida)
• Dimetilnitrosamina (tóxico, cancerígeno)
• Dioxinas (cancerígeno)
• Fenol (corrosivo)
• Metanol (carburante para foguetes)
• Monóxido de carbono (gases de escape)
• Naftalina (anti-traças)
• Naftilamina (cancerígeno)
• Polónio 210 (elemento radioactivo)
• Toluidina (cancerígeno, irritante)
• Tolueno (solvente industrial)
• Uretano (endurecedor de vernizes, tóxico)missing image
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O que se Inala ao Fumar
Resumindo, poderíamos dividir os produtos existentes no fumo
do tabaco em quatro tipos:
1. Os cancerígenos absolutos, ou seja, as substâncias que
são cancerígenas em si mesmas, cuja acumulação no organismo pode provocar um
tumor maligno.
2. Os co-cancerígenos, quer dizer, as substâncias que, por
si só, não são cancerígenas, mas que podem acelerar a produção de uma neoplasia
iniciada por outros factores.
3. As substâncias irritantes, que provocam tosse,
contracções brônquicas, além de impedirem os movimentos dos cílios do epitélio
respiratório (que estimulam a secreção de mucosidade e a sua eliminação, um
sistema de protecção), e de prejudicarem outros processos enzimáticos.
4. Outros tóxicos, em particular a nicotina e o monóxido de
carbono. A nicotina – um alcalóide do mesmo tipo da cocaína – (2 mg em cada
cigarro) actua sobre o sistema nervoso (tem um papel importante na manutenção
do hábito de fumar e na viciação) e sobre o sistema cardiovascular (aumentando
a pressão arterial, o ritmo cardíaco, a força de contracção do coração, o fluxo
nas artérias coronárias). Tem uma acção pronunciada sobre as plaquetas
sanguíneas (o que pode provocar a formação de trombos, ou coágulos (trombose) e
sobre a acumulação de ácidos gordos na corrente sanguínea (favorecendo o
aparecimento da arteriosclerose). O monóxido de carbono é extremamente venenoso
e existe em quantidade apreciável no fumo do tabaco. A sua acção está
intimamente ligada à capacidade de fixação do oxigénio, por parte das células
vermelhas do sangue (hemoglobina). Dado que estas células têm uma afinidade
pelo monóxido de carbono 210 vezes maior do que pelo oxigénio, quando se inala
o fumo do tabaco, a hemoglobina perde a sua capacidade de fixação do oxigénio,
o que provoca perturbações respiratórias (cansaço, dificuldade em respirar),
circulatórias (aumenta a quantidade de hemoglobina em circulação) e no sistema
nervoso (que recebe uma quantidade insuficiente de oxigénio).
Como e Onde Actuam Estas Substâncias
O fumo, assim como o álcool (falaremos dele num próximo
número), são venenos sistemáticos, quer dizer, afectam todos, ou quase todos,
os órgãos. Todos sabemos qual o efeito do fumo sobre a pele – rugas, palidez,
perda da elasticidade; as unhas são afectadas e os olhos também.
Mas vejamos outros efeitos do uso do tabaco.
Aparelho Digestivo
O tabaco provoca lesões várias ao nível da boca –
amarelecimento dos dentes, contracção das gengivas, mau hálito, inflamações da
cavidade bucal e da língua, cáries, lesões pré-cancerosas e cancerosas (lábios
e língua), mesmo entre os fumadores de cachimbo. Ao nível do estômago, surgem
úlceras gástricas e duodenais, refluxo gastroesofágico, aumento da produção de
ácido clorídrico e problemas no pâncreas.
Sistema Cardiovascular
Numerosos estudos revelaram um aumento das cardiopatias
isquémicas e de arteriosclerose entre os fumadores. Os fumadores correm um
risco acrescentado de sofrer de angina de peito e de enfarte do miocárdio. As
mulheres que fumam e que tomam anticonceptivos orais correm um risco de enfarte
5 a 10 vezes maior. A arteriosclerose é o resultado da acção da nicotina e de
outras substâncias tóxicas sobre o metabolismo (aumento da concentração de
gorduras no sangue e o seu depósito nas paredes das veias e artérias, com o
consequente endurecimento e posterior obstrução). Nos membros inferiores,
sobretudo, as artérias podem ser objecto de graves processos inflamatórios e de
obstruções, que, nos casos mais graves, chegam à amputação do membro. A acção
da nicotina, ao aumentar a aderência das plaquetas sanguíneas, aumenta muito o
risco de trombose arterial e venosa profundas bem como de embolia pulmonar.
Aparelho Respiratório
O fumo do tabaco provoca cancro do pulmão. Na verdade, o
melhor cigarro é aquele que não se fuma. Uma pessoa que fuma um maço por dia,
corre um risco 10 vezes maior do que um não fumador de contrair cancro das vias
respiratórias. Se fumar dois maços, o risco aumenta exponencialmente (25
vezes). Noventa por cento das mortes por cancro de pulmão são devidos ao uso do
tabaco, ou seja, são perfeitamente evitáveis. Ao diminuir, ou abandonar o
hábito de fumar, reduz-se o risco. Ao fim de 10 anos sem tabaco, o risco é
quase igual ao de um não fumador. Além disso, o fumo do tabaco também produz
outros problemas respiratórios de tipo não tumoral, como sejam a bronquite
crónica, o enfisema pulmonar e a insuficiência respiratória. É conhecida a
tosse crónica, com expectoração, típica dos fumadores. A acção irritante das
numerosas substâncias do fumo paralisa a acção dos cílios vibráteis
existentes
nas paredes da traqueia e dos brônquios, impedindo assim que expulsem das vias
aéreas as substâncias e resíduos agressivos para o organismo. Aumenta, assim, o
risco de pneumonias, de traqueobronquites e de infecções das vias
respiratórias.
Sistema Neuropsíquico
Como dissemos antes, a nicotina é um alcalóide que provoca
dependência. O fumador depende do seu cigarro e do seu hábito de fumar. Quando
não inala nicotina sente-se realmente mal. Não existe só um síndroma de
dependência física, como na maioria das toxicodependências, mas também uma
dependência emocional e psicológica. Muitas vezes, a deterioração neuropsíquica
é consequência directa da deterioração cardiovascular. O tecido nervoso é
extremamente delicado e a mínima diminuição da irrigação sanguínea pode provocar
o seu desequilíbrio. Se houver uma paragem, ainda que momentânea, do fluxo
sanguíneo nessa zona, produz-se a destruição de células nervosas, que não são
substituídas. A insuficiência de irrigação no tecido nervoso pode provocar
perdas de memória, transtornos de visão ou perda das funções anatómicas,
chegando até à hemiplegia.
Fumar na Gravidez
A nicotina provoca a diminuição do fluxo sanguíneo para a
placenta, fazendo com que o feto receba menos sangue, menos oxigénio e menos
alimento. Esta situação, já de si muito perigosa, é ainda mais grave devido ao
monóxido de carbono. Está provado que os bebés de mães que fumam mais de 10
cigarros por dia costumam nascer com entre 150g e 350g de peso inferior ao
normal, mas, pior ainda, podem apresentar problemas motores e psíquicos. Além
disso, o uso do tabaco durante a gravidez aumenta o risco de morte do feto ou
do recém-nascido.
O Fumador Passivo
Todos assistimos ao “combate” entre os fumadores e não
fumadores, cada um pugnando pelos seus “direitos”: uns exigindo a liberdade de
fumar a seu bel-prazer, os outros exigindo respeito pela sua saúde e pela sua
opção de não fumar. Há uma frase que define um pouco o que se passa: Quem fuma
envenena-se a si e aos outros. A pessoa que não fuma e que vive com um fumador
corre o risco de um lento processo de intoxicação. Calcula-se em 1% o número de
mortes devidas à absorção passiva do fumo do tabaco. Imagine-se o efeito nocivo
que pode ter sobre a saúde psíquica, emocional e física de uma criança o uso de
tabaco dentro de um lar. Essa criança estará permanentemente sujeita a uma
poluição evitável, que destruirá muitas das suas defesas e que a predisporá
para, mais tarde, ser ela mesma uma fumadora.
A respiração do ar contaminado pelo fumo do tabaco pode
agravar doenças já existentes, como são as doenças crónicas do pulmão e das
coronárias.
Deixar de Fumar é Possível
O escritor Mark Twain dizia, com algum humor: “Deixar de
fumar é a coisa mais fácil do mundo! Eu já o fiz dúzias de vezes.” Na verdade,
sondagens feitas revelam que muitos fumadores (80%) gostariam de abandonar o
hábito definitivamente.
Têm sido propostos vários métodos para ajudar os fumadores a
deixar o hábito, mas, dado que os factores que levaram a pessoa a fumar diferem
dos de outras pessoas, esses métodos podem não ser eficazes. Um fumador, a
lutar sozinho contra o tabaco, facilmente fracassará, já que se encontra
perante um inimigo que actua em várias frentes: através da atmosfera carregada
de fumo no trabalho, da incompreensão dos companheiros, dos gestos
estereotipados da vida diária (de que não nos damos conta), do café depois da
refeição e até do coffee-break no escritório.
A pessoa que decide deixar de fumar tem que enfrentar, além
da dependência fisiológica e psicológica, um constante bombardeamento social e
(ainda que menor actualmente) publicitário.
Os métodos mais eficazes para ajudar a deixar de fumar são
as terapias de grupo, dadas as numerosas possibilidades de apoio que oferecem
aos fumadores mais viciados.
A técnica mais conhecida é a do chamado Plano de 5 Dias,
actualmente chamado Plano de 8 Dias, que teve início na América em 1959 e que
usa apenas meios naturais.
Geralmente, dois responsáveis dirigem o programa: um
(médico, enfermeiro ou biólogo), ocupa-se da parte fisiológica, e outro da
parte psicológica, que faz uma análise clara e completa das motivações que
levaram ao hábito e das dependências criadas. Este método desenvolve a força de
vontade do fumador, uma condição imprescindível para o êxito. No decorrer do
programa são dadas informações no plano dietético, respiratório e do exercício
físico.
Manuel Ferro
Redacção Saúde & Lar
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